A antiga e instintiva arte de arrumar uma casa, que já foi reverenciada, tem se perdido em detrimento da vida moderna e a dissociação da figura feminina dessa função. Embora todos saibamos onde colocar cada objeto (ou não) muitas pessoas tem dificuldade do que fazer para tornar sua casa aconchegante e acolhedora, para que ela traduza sua personalidade, atenda os anseios de sua alma e esteja organizada.
Mudar essa situação depende de você, e isso pode ser feito com facilidade. Não perdemos por completo a habilidade de arrumar a casa, só está enferrujada e pausada diante de tantas ofertas que as ruas nos oferecem, parece ser mais atrativo passar tempo fora dela e trata – lá como um vestíbulo ou deposito.
Mas se de verdade houver um desejo de reverter esse quadro precisamos entrar em contato com nossa essência, e precisamos de tempo, esforço, dialogar com memorias afetivas, imaginação e vontade, e assim traremos de volta a magia, calor e alegria para dentro de suas paredes.
Serão necessários cuidados físicos, emocionais e energéticos, teremos de ser capazes de sentir e alterar sua atmosfera, exercitando nossa intuição para atender as suas necessidades. Redescobrindo a essência da sua casa você se aproxima da natureza com todo os seus elementos e a força vital que eles possuem, explore seus sentidos através de sons, aromas e texturas.
Esse reencontro será um caminho de autoconhecimento e de transformação para ambos, o resultado será o tão almejado santuário.
No domingo passado assisti ao novo filme de Pedro Almodóvar, Dor e Gloria. Não vou dar spoiler do filme, mas não poderia deixar de comentar o que senti. Uma das coisas que me chamou bastante a atenção na trama, foi a sequência de cenas onde a atriz Penélope Cruz, que representa a mãe de Salvador (Pedro Almodóvar), decidi transformar um “buraco”, jeito como ela se refere a nova moradia em um lar.
Num determinado momento eles vão morar nesse vilarejo onde as casas se parecem com cavernas. No primeiro impacto de Jacinta, personagem interpretado por Penélope, o lugar parece inapropriado para se morar, mas mesmo decepcionada, ela se mostra forte e altiva em transforma – lo. O exercício feito por ela nesse movimento foi de colocar o seu coração a serviço daquele espaço. Eu embarquei em cada pequeno movimento dessa transformação, senti toda a intensidade da luz do sol que entra pela claraboia, as latas transformadas em vasos e dispostos tanto no piso quanto pendurados, a pintura caiada das paredes e os azulejos coloridos sobre a pia, criaram essa atmosfera envolvente, aconchegante e acolhedora que toda casa gostaria de ter.
Vale conferir tanta beleza, tanta cor, tanta emoção de um jeito que só Almodóvar sabe traduzir aos olhos de seus admiradores.